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Mataram o Campeonato Catarinense

eduardo madeira 5

Pausa nas disputas da Série B do Campeonato Brasileiro. Hora de falar do Campeonato Catarinense. Aliás, posso colocar um “R.I.P.” (sigla em inglês para “descanse em paz”) toda vez que comentar sobre o famigerado estadual de Santa Catarina? A razão é bem simples. A Federação Catarinense de Futebol (FCF) tem feito de tudo para mata-lo por completo, tirando qualquer atrativo comercial, competitivo e, principalmente, de público, que verá em 2019, mais uma vez, um campeonato com fórmula insossa e extremamente arrastado.

Assim como foi nessa temporada, o próximo Campeonato Catarinense – que já começará errado, ainda na primeira quinzena de janeiro, dando um tempo ínfimo de pré-temporada – terá a mesma fórmula de disputa: dez times, pontos corridos, turno e returno e os dois primeiros colocados avançando para a decisão.

Vamos por partes: ok, não dá para mudar a fórmula de um ano para o outro, como determina o Estatuto do Torcedor. É preciso pontuar, entretanto, que o erro vem desde este ano, com um Estadual formulado as pressas, que teve várias formas cogitadas, muitas sugestões e um formato final que não gerou consenso e que não provocou competitividade dentro de campo.

Para quem está com a memória fraca e não recorda, o Estadual deste ano foi totalmente previsível, com Chapecoense e Figueirense confirmando vaga para a decisão com bastante tranquilidade. Evidentemente, foram beneficiados por um regulamento que privilegia quem tem dinheiro para gastar e faz suar além da conta quem vive de migalhas. Para os grandes é um alívio poder começar o campeonato mal e se recuperar ao longo dele (oi, Criciúma). Para os pequenos, um tormento ter de se arrastar em um torneio tão longo com tão poucos recursos.

Outro ponto questionável: os jogos únicos. Já vimos neste ano a Chapecoense deitar e rolar em solo local, mas perder o título em uma única partida. A FCF quer repetir isso, e pior: podendo colocar semifinais em jogos únicos. Um crime contra o estadual. Por que fazer tantos jogos em uma fase se são partidas isoladas que vão decidir o campeão?

O último ponto que gostaria de citar é o que mais me preocupa: a FCF pretende consultar o Ministério dos Esportes para mudar a regra de acesso e descenso. Ou seja, cairia apenas uma equipe e subiriam três para 2020. Um verdadeiro atentado contra o estadual.

Santa Catarina não pode abrigar 12 times na primeira divisão. Não tem equipes para isso. Tem times tradicionais, de camisa pesada, é verdade, mas que foram maltratados por gestões amadoras que os jogaram no ostracismo. São essas equipes que a FCF quer na primeira divisão, inchando ainda mais o calendário?

Será que a federação e os clubes não observam o baixíssimo nível técnico que o Campeonato Catarinense vem apresentando? Não percebem a queda na média de público? Na competitividade? É algo que parece ser tão simples, tão visível, mas que passa despercebido pelos cartolas.

Para quê 19 datas de estadual? É muito jogo e é muita viagem para um estadual que é irrelevante em nível nacional e que, desta maneira, vai se tornar irrelevante para os clubes também. Afinal de contas, vai ser interessante para os cinco grandes abrir mão de uma pré-temporada decente para disputar esse torneio? Vai valer a pena acelerar processos na organização física em janeiro para chegar em setembro e outubro, momento decisivo nos torneios nacionais, e ver os principais atletas despencarem com problemas musculares ocasionados de uma pré-temporada malfeita?

O Campeonato Catarinense de 2019 já nasceu morto, e quem paga o pato são os clubes locais, que ficam a mercê de uma federação incapaz de explorar o principal produto que tem em mãos.

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