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Não há milagre na relação risco x retorno

Fabiano Tremea Vargas

No último texto – que, a propósito, foi o de estreia neste espaço – convidei o leitor para uma reflexão sobre o rendimento da Caderneta de Poupança. De lá para cá, a aplicação mais popular entre os brasileiros piorou um pouco. Como vimos, a Poupança está diretamente relacionada à variação da taxa Selic que, recentemente, foi reduzida em 0,75% – carregando o rendimento da Poupança para baixo em aproximadamente 0,52%.

Taxa Selic em 17/06/2020 = 2,25% ao ano

Rendimento da Poupança = 1,57% ao ano, ou 0,13% ao mês

Nesse cenário, cresce o número de brasileiros que buscam outras opções de investimento. Mas poucos podem ou estão dispostos a correr riscos. É compreensível e até recomendável, especialmente para os menos experientes nessa área.

Por isso, investimentos atrelados ao CDI estão entre os mais populares. Nesse tipo de aplicação, a instituição financeira emite um Certificado. O mais comum é o Certificado de Depósito Bancário (CDB). O investidor, então, passa a ser credor dessa instituição, que o remunera. É isso: ao comprar um CDB, você empresta dinheiro ao banco, mediante promessa de pagamento e juros.

Mas o que é CDI?

Como qualquer mercado, o financeiro é composto por trocas.

Basicamente, pessoas ou empresas que possuem recursos “sobrando” emprestam para quem precisa desses recursos. Em bom “economês”: agentes superavitários transferem recursos para agentes deficitários, que devolvem com juros. Mas esses agentes não fazem essas trocas de forma direta. Para tanto, existe um intermediador financeiro que, via de regra, é uma instituição financeira – um banco, cooperativa, corretora.

Esse mecanismo funciona todos os dias. Pessoas e empresas depositando e aplicando dinheiro nos bancos; pessoas e empresas sacando e tomando empréstimo nos bancos. Ocorre que essa conta nem sempre “fecha”.

Imagine que um determinado banco, ao longo de um dia, teve mais saques do que depósitos. Isso pode acontecer e é bem comum. Ao final do dia, após pagar todos os saques, esse banco precisa cobrir o seu caixa. Não pode, até por força de legislação, terminar o dia com o caixa negativo. Ou seja: os bancos também precisam fazer essas trocas.

O banco A, então, solicita recursos ao banco B, que cobra uma taxa de juros para isso; o Banco C solicita ao D, também mediante a juros; e assim se sucedem as trocas, até que todos consigam terminar o dia no “azul”. A taxa de juros que os bancos cobram uns dos outros é a CDI e a média dessas taxas é chamada Taxa DI.

Essa taxa é usada como um parâmetro para remunerar a maioria das aplicações em renda fixa – aquela em que se conhece o percentual ou o índice de juros, já no momento da aplicação.

Um banco pode pagar mais que 100% do CDI em uma aplicação de renda fixa – um CDB?

Pode. Mas tome cuidado.

Vamos raciocinar: se o banco “gasta” determinado valor em juros para cobrir o próprio caixa, tomando empréstimo no mercado, como poderia remunerar mais que esse valor?

Essa instituição pode estar fazendo uma política arrojada para atração de investidores. Apostando que a maioria dos seus clientes não precisará sacar os recursos em um curto ou médio prazo.

E se a aposta der errado? É um risco. Tudo certo, faz parte do jogo, desde que muito bem explicado, especialmente para o investidor menos experiente.

São basicamente dois riscos envolvidos em uma aplicação em CDB. O primeiro é o risco de crédito: quando a instituição não consegue mais honrar seus compromissos de resgate e “quebra”; o segundo é o risco de liquidez: quando não se tem acesso ao saque imediatamente quando solicitado. A instituição pede um prazo para pagar o resgate.

Dificilmente você verá uma oferta superior a 90% do CDI em CDBs de grandes bancos. Via de regra, esses agentes possuem políticas muito mais conservadoras. Para te pagar mais que isso, vai exigir uma carência de um ou dois anos. Tempo suficiente para garantir que seu caixa vai fechar todos os dias e que todos os saques serão honrados imediatamente.

Importante ressaltar a existência do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para alguns tipos de investimentos – inclusive para o CDB. Desde 2017, esse fundo garante até R$ 250 mil por CPF. Mas tem algumas regras. Ainda vamos aprofundar o tema FGC em próxima oportunidades.

Rendimento é diretamente proporcional ao risco.

Rendimento é diretamente proporcional ao risco.

Não foi erro de digitação. A redundância e o Ctrl+C / CTRL+V são propositais.

Maior possibilidade de retorno, mais riscos envolvidos. E está tudo certo com isso. Repito: desde que seja bem explicado. Que seja respeitado o perfil do investidor.

Aliás, você conhece seu Perfil de Investidor?

Você é conservador? Moderado? Arrojado? Agressivo?

Alguém já te perguntou isso, antes de oferecer uma aplicação financeira?

Em próximos textos vamos abordar esse tema. Perguntas simples sobre comportamento podem dizer muito sobre o quanto de risco se está disposto a correr.

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