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Resenha do livro: As Fúrias Invisíveis do Coração, de John Boyne

Sobre livros e leituras

As Fúrias Invisíveis do Coração, de John Boyne, é um livro sobre aceitar-se, ser aceito, encontrar seu espaço no mundo, levar uma vida sem segredos sendo o que realmente é. O autor traz como personagem principal Cyril Avery que é homossexual, mas poderia ter outras características que também não são aceitas pela sociedade, e a história mostra a força do amor e o poder da tolerância. A narrativa começa em 1945, quando Catherine Goggin com apenas 16 anos e solteira é expulsa de sua comunidade pelo padre local por estar grávida. Ela vai embora sem ter um plano e assim conheceu na própria pele a intolerância e o preconceito e isso vai se repetir algumas vezes em sua vida.

Quando seu filho nasceu, Catherine entregou-o para adoção e é aí que o leitor conhece Cyril Avery, já com 7 anos e filho adotivo de um casal rico. Só que todo momento ele era lembrado que não era um Avery de verdade e apesar de ter tido uma infância boa, não conheceu o amor fraternal. Cyril nasceu na Irlanda, um país que na década de 40 e nas seguintes é dominado pela igreja católica e ser homossexual é crime, então com 14 anos, já sabendo que era diferente, Cyril teve que esconder isso de todos e tentar viver conforme as regras da sociedade. De sua mente transbordam dúvidas, só que acredita não ter muito o que fazer, e segue sua vida escondendo a homossexualidade.

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Os capítulos são escritos a cada sete anos, mostrando o Cyril criança com sete anos, depois o adolescente com 14 anos obcecado por seu melhor amigo, o jovem com 21 anos e se descobrindo, o adulto com 28 anos que sem coragem de contar a verdade toma decisões que irão machucar pessoas que ama e mudar drasticamente o rumo de sua vida. E quando tem que ir embora da Irlanda, sua vida muda radicalmente e ele descobre que ser homossexual não é um grande problema e que ele também é capaz de amar e ser amado. Então com 35 anos já é uma pessoa resolvida e que sabe o que quer, além de ter descoberto o amor. E ele segue em frente e muitas vezes se pergunta quem são seus pais e de onde veio. O último capítulo é em 2015.

Os leitores sabem desde o início que Catherine Goggin é mãe de Cyril só que eles não, e a vida os coloca algumas vezes frente a frente, mas não dá a oportunidade de se descobrirem como família. As Fúrias Invisíveis do Coração apresenta também vários personagens marcantes, enriquecendo a obra. Todos eles, com seu jeito de ser, seus sonhos, suas escolhas, suas realidades, enfrentam problemas e tentam se adaptar a eles ou dar a volta por cima da melhor forma possível. A vida não são só flores para ninguém e cabe a cada um carregar seu fardo da melhor forma possível.

John Boyne construiu um romance com personagens que vivem, sofrem, amam e também são felizes em vários momentos. A vida é assim, cheia de surpresas, de erros e acertos, de medos e coragem, de não saber o que fazer ou de saber e não conseguir. Cyril não era um Avery de verdade, mas fez o melhor que pôde com sua vida, às vezes machucando alguns, outras vezes partilhando a felicidade. As Fúrias Invisíveis do Coração é um livro sobre aceitação, preconceito, amor e libertação.

As Fúrias Invisíveis do Coração, de John Boyne – 535 páginas.

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