Especial

Saiba como identificar um relacionamento abusivo

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POR: LARISSA WITT

A polêmica recente envolvendo a empresária Mayra Cardi e o cantor Arthur Aguiar, com quem ela têm uma filha de um ano, vêm dando o que falar na internet. O casal rompeu o casamento de três anos no início de maio, e recentemente, Mayra publicou um vídeo no Instagram com o título “chega de mentir para mim mesma”. No vídeo ela revela que viveu um relacionamento abusivo ao lado do ex-marido, afirmando que Arthur é “manipulador” e o acusando por mais de 16 traições.

O caso de Mayra é mais um entre milhares de mulheres que já viveram ou ainda vivem uma relação abusiva. Existem várias categorias, mas é entre homem e mulher que as ocorrências são mais frequentes. Em muitos casos, a mulher nem sequer se dá conta de que está em um relacionamento abusivo, é onde surge a importância de falar a respeito.

“Ter coragem de expor situações umas para as outras faz não só com que as mulheres tenham coragem de sair do relacionamento, como também ajuda a identificar que a relação é abusiva. Há uma reação em cadeia quando se fala sobre, as mulheres se sentem fortalecidas. É bom saber que não se está sozinha num barco”, explica a psicóloga Josiane Javorski.

Ciúmes excessivo dos amigos ou da família, controle das roupas a serem usadas e proibição de realizar determinadas tarefas são algumas atitudes que devem ser observadas no parceiro. “Quando a mulher começa a ter prejuízos pessoais, sociais ou profissionais é necessário ligar um sinal de alerta”, ressalta Josiane.

Ela fala que é comum que as pessoas com quem a vítima convive perceberem o relacionamento abusivo antes mesmo dela se dar conta sozinha. Neste caso, o círculo familiar ou de amizades até tenta alertar a mulher, mas ela está tão envolvida que pode não dar ouvidos. “Isso não quer dizer que ela não acredite nessas pessoas ou que ela ignore essa fala. É porque ela enxerga dentro do relacionamento coisas que pessoas de fora não veem”, esclarece.

A mulher que está num relacionamento abusivo também vive momentos agradáveis ao lado do parceiro, e por isso,  há uma disfuncionalidade de pensamento que faz com que ela pense que está tudo bem suportar as coisas ruins. A partir disso, ela normaliza as atitudes do abusador e foca apenas nas coisas boas.

“É importante que as pessoas em volta tenham paciência com essa mulher e não se afastem dela por decidir se manter na relação. É necessário não desistir de tentar ajudá-la, porque em algum momento vai dar certo. Mas isolar ela com esse parceiro é tudo o que ele precisa para dominá-la ainda mais”, salienta a psicóloga.

Nem sempre ocorrem agressões físicas

Diferente do que muita gente pensa, nem sempre um relacionamento abusivo se manifesta com uma agressão física. Na verdade, existe um ciclo de quatro fases.

O trajeto começa na “tensão”, momento em que o parceiro inicia uma briga ou discussão por um motivo irrelevante; depois ocorre o “incidente”, onde o abusador ameaça e agride de forma verbal, emocional ou física a mulher, gerando uma enorme pressão na vítima; logo após vem a “reconciliação”, momento em que o parceiro demonstra arrependimento, se desculpa e afirma que não voltará a agir desta forma; por fim, a “lua de mel”, onde o casal esquece o que aconteceu e há uma pausa dos comportamentos abusivos. Depois de um tempo, o ciclo reinicia.

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“Ele queria me proibir de trabalhar”

Tainá Oliveira é acadêmica de Educação Física e viveu durante quatro anos e meio num relacionamento que se tornou abusivo. Durante os dois primeiros anos, ela conta que estava tudo normal, “era maravilhoso”. “Começamos a ter algumas brigas, mas eu achava que era uma coisa boba, então me deixei levar e pensar que aquilo era natural”, revela Tainá.

No decorrer do tempo, ela passou a identificar o abuso em algumas atitudes do parceiro. Ele não queria deixá-la trabalhar nem estudar, porque alegava ser dinheiro jogado fora. “Ele pedia que eu ficasse somente cuidando da casa, nós morávamos juntos com minha mãe. Não admitia que eu crescesse, porque eu estava crescendo profissionalmente e pessoalmente, então ele dizia que o que eu estava fazendo era errado”, conta.

Tainá trabalha em uma academia com um público em maior parte masculino, motivo que irritava demais o parceiro. Ele a acusava de traí-lo com os alunos, controlava as amizades dela e tinha ciúmes até mesmo dos amigos gays. A acadêmica conta que foi a mãe que começou a identificar que havia algo errado no relacionamento, e passou a alertá-la.

Pelo fato de ser o primeiro relacionamento sério de Tainá, ela demorou para agir. “Eu pensava que iria ficar sozinha. Ele sempre me falou que se eu terminasse com ele, iria morrer sozinha porque não iria encontrar mais ninguém”, revela. Na primeira tentativa de término, ele deu um tapa na cara dela. “Eu disse que aquilo seria a gota d’água. Nós terminamos, mas depois voltamos e continuamos juntos por mais um tempo”.

Muitas mulheres relatam ter dificuldades para sair da relação abusiva porque amam demais e às vezes não percebem o abuso. Depois de um tempo, Tainá conseguiu dar fim ao namoro. Hoje ela faz terapia e diz que se sente outra pessoa. Como recado à todas as mulheres, ela fala: “amem-se acima de tudo, sejam mais orgulhosas, batalhem por aquilo que vocês querem. Nós, mulheres, temos esse poder. Antigamente, várias lutaram para garantir os direitos que temos hoje, então não deixem que qualquer homem menospreze ou diga que não podemos fazer algo, porque nós podemos sim”, destaca.

 

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