Colunistas

Psicofobia, o que é isso?

ALESSANDRA MARTARELLO ALVES
ALESSANDRA MARTARELLO ALVES

O preconceito contra quem sofre de transtornos mentais é crime e está previsto por Lei.
Pouco antes de falecer, o humorista Chico Anysio decidiu entrar na luta contra o preconceito que cerca as doenças mentais. Ele sofria de depressão. Ao receber em sua casa o médico Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Chico fez o seguinte comentário e uma sugestão:

– Antigamente existiam carros usados. Agora chamam de “seminovos”. As coisas hoje têm esses nomes. Crie um nome para o preconceito.
As palavras do comunicador e humorista não foram esquecido. E depois de algum tempo, a ABP lançou o termo “psicofobia”.

Psicofobia tem sido usado no sentido não-clinico no Brasil, definindo o preconceito ou discriminação contra pessoas com transtornos ou deficiências mentais.

A saúde mental ganhou muito destaque nos últimos anos tanto na mídia quanto nas conversas casuais. A pandemia de coronavírus, levou muitas pessoas a questionarem os fatores necessários para cuidar da saúde mental.

Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) prevê um cenário preocupante. Pesquisas revelam que 30% da população das Américas teve ou terá alguma condição de saúde mental.

A reincidência dessas condições é bem alta no país. Ainda assim, o preconceito na saúde mental persiste em nossa sociedade, contribuindo para o afastamento das pessoas da terapia e outros tipos de tratamento.

Muitas pessoas desconhecem a profundidade das características da ansiedade e depressão por exemplo. É por isso que, quando recebem uma informação inconsistente com a realidade, como “depressão é preguiça” ou “ansiedade não existe”, costumam acreditar nela.

Esses conceitos distorcidos fazem com que essas pessoas reajam com estranheza às condições de saúde mental e, consequentemente, aos indivíduos que as possuem. Assim, pessoas com depressão, ansiedade, bipolaridade, síndrome do pânico, transtornos de personalidade, distúrbios alimentares e outros sofrem com a sua discriminação.

O preconceito na saúde mental é um problema que precisa ser vencido para que o sofrimento psicológico de quem possui seja cessado ou minimizado.

Além de haver uma discriminação contra essas pessoas, há também o preconceito contra a terapia e os medicamentos psiquiátricos. Na visão de quem desconhece o funcionamento desses tipos de tratamento, eles são ineficazes, ou servem somente para pessoas “loucas” ou “problemáticas”.

O preconceito no ambiente de trabalho, na escola ou dentro da relação afetiva geram grandes sofrimentos para o paciente. As pessoas podem atribuir seus erros e dias ruins (pelos quais todo mundo passa) à depressão, ansiedade ou pânico, reduzindo a sua individualidade à sua condição de saúde.

Todas as pessoas podem, em algum momento da vida, desenvolver um transtorno psicológico. As causas de transtornos mentais não são completamente conhecidas, existem predisposições genéticas, mas tem também importância o psicossocial, interações com o meio, com a cultura, com o que vive no dia a dia. Exposição a diversas violências e traumas, assim como má qualidade de vida, sem momentos de lazer e com estresse contínuo podem ser propulsores para um quadro de distúrbio psíquico.

O medo dos julgamentos e a vergonha para aceitar a sua condição de saúde vão na direção contrária ao tratamento adequado. Eles intensificam o sofrimento no dia a dia, colaboram para o agravamento dos sintomas ao longo do tempo e, em certos casos, podem levar ao aparecimento de doenças físicas.

Buscar ajuda psicológica e psiquiátrica é um ato de amor-próprio. Não é só uma questão de tomar remédio. Claro que ele diminui mais rápido a gravidade dos sintomas e impede consequências nocivas, e com a intervenção da psicoterapia é onde acontece a melhora da qualidade de vida.

É buscar uma maneira mais adequada e agradável de viver a vida, conforme os seus desejos, ambições e necessidades. É conhecer mais sobre si mesmo e levar uma vida com menos estresse, frustração e decepção.
Ninguém deveria se sentir menosprezado por precisar e querer consultar um psicólogo e/ou psiquiatra.

Esses profissionais têm o objetivo de ajudar as pessoas a se sentirem bem consigo mesmas, superando medos, preocupações, inseguranças e conflitos que afetam negativamente a sua saúde.

O casamento entre psicoterapia e medicação é o mais indicado para os transtornos mentais. Também é essencial que haja mudanças no estilo de vida, como a prática de esportes, boa alimentação e sono reparador e ter uma satisfação nos relacionamentos.